Dramaturgia e Encenação: Susana C. Gaspar Estreia: 15-11-2014 | Centro Cultural Olga Cadaval Outras apresentações: Auditório do Centro de Promoção Social, Tabuaço | Teatro Taborda, Lisboa (Ciclo "Try Better, Fail Better '15) | Auditório António Silva, Cacém (Festival "Muscarium #1")
Maria Coroada (mãe): terceira Eva e sacerdotisa.
Antónia das Neves (filha): foi, também, António das Neves, nome que manteve, durante longos anos, na escola e no trabalho à jorna pelo Douro, até se converter em heroína de saias. Mulher Homem e Coroada é um projeto teatral, com dramaturgia original, inspirado na história verídica de duas mulheres que, no século XIX, viveram na aldeia de Granja do Tedo, concelho de Tabuaço. O singular percurso vivencial destas duas figuras, glosado nas narrativas literária e espetacular, inscrevem este projeto no debate de temas como Igualdade de Género ou a dicotomia sagrado/profano. Susana C. Gaspar assume a direção artística e interpretação deste projeto através do qual pretende refletir "intimamente" sobre a História e Identidade do seu país, mas, também, sobre as suas histórias/memórias pessoais – a vivência na aldeia daquelas duas mulheres (Granja do Tedo), que é a mesma da sua família paterna. O espetáculo tem música original, interpretada ao vivo, da responsabilidade de João Ceitil, e cenografia e figurinos de Ângela dos Santos Rocha. CONTEXTUALIZAÇÃO
Alimenta a dramaturgia deste espectáculo a história de uma aldeia situada no norte de Portugal, a Granja do Tedo, concelho de Tabuaço, na segunda metade do século XIX. De contornos historiográficos questionáveis (inverosímil no contexto político e religioso da época), esta é uma história que fascina Susana C. Gaspar desde a infância, habituada a ouvi-la pela sua família. A pesquisa para esta criação teve como base duas vertentes: a dos estudos de género/estudos sobre mulheres e a do sagrado e profano na cultura portuguesa. Foi também imprescindível o fac-símile do livro da autoria de Patrício Lusitano e Pantaleão Froilaz, Maria Coroada ou o Scisma da Granja do Tédo, verdadeira historia da Mulher-Homem ou Homem-Mulher, Antonio Custodio das Neves ou Antonia Custodia das Neves (1879), de onde se retiraram excertos dos discursos, de cariz messiânico, de Maria Coroada. Aliando a pesquisa bibliográfica a uma dimensão de memória pessoal, familiar e local, foi pretendido, neste projecto, cruzar as tradições populares e a história portuguesa do século XIX com a actualidade do nosso século. O projecto em presença nasce de uma vontade de aprofundar temas relacionados com a temática da Igualdade de Género, mas, também, de criação de um percurso artístico assente na pesquisa e na documentação. A artista responsável por esta direcção participou na 2ª Edição do workshop Outras Escritas Para Teatro, promovido pelo Teatro do Silêncio e orientado por Maria Gil, no ano de 2011. O trabalho desenvolvido no Lavadouro de Carnide, no âmbito do workshop, foi um primeiro impulso para avançar na construção deste projecto. Os temas convocados para esta criação - discriminação com base no género, travestismo, trabalho masculino/feminino - não estão distantes dos anteriores projectos da artista, focados nas temáticas de Direitos Humanos (Lampedusa e Corpo-Mercadoria). Esta história é ainda pouco conhecida na sua região de origem, apesar da sua veracidade e da investigação de que tem sido alvo. Assim, este projecto nasce também de uma necessidade de difusão desta história, que parece ter ficado perdida devido aos “tabus” (nas palavras de algumas pessoas da aldeia) de que se não devem falar. Resumo do Caso MARIA COROADA - O CISMA DA GRANJA DO TEDO Entre os anos de 1840 e 1847, não se sabe bem por que caminhos, a família dos Custódios (José Custódio, mestre escola, e Cristina Gaspar), pais de dez filhos (seis rapazes e três raparigas), entregaram-se a um estranho culto para o qual arregimentaram numerosos adeptos. Presidia à seita uma das filhas, Maria das Neves, que se intitulou Maria Coroada, espécie de sacerdotisa herética e devassa que reinventou uma torpe liturgia a partir de uma catequese antiga e cristã. Diz-se que era mãe da Mulher-Homem da freguesia da Granja do Tedo. Finalmente, o administrador do antigo concelho de S. Cosmado pôs fim, através de ameaças, àquelas práticas. Uma velha casa, no Povo de Baixo, voltada para o rio Tedo, ainda atesta a existência deste estranho culto, sendo lembrada como a Casa das Coroadas. A MULHER-HOMEM Chamou-se, pelo baptismo, Maria da Trindade e era filha de Maria das Neves, ou Maria Coroada. Nascida em Quintela (Sernancelhe), foi, ainda criança, para Granja do Tedo (1851). Vestiu-se como rapaz e adoptou o nome de António das Neves, estatuto que manteve pela vida fora, na escola, no trabalho à jorna pelo Douro e, mais tarde, como empregado de comércio. Cultivou a amizade de uma rapariga da Granja do Tedo, mas adiou sempre o casamento. Corria o ano de 1879, certo dia, no Porto, a polícia suspeitou da estranha situação de António das Neves, que não trazia consigo documentos militares. Foi levado a Tribunal mas logo libertado devido às boas referências de toda a gente. Readquirindo um estatuto de mulher casou nesse mesmo ano com o filho de um antigo patrão. Morreu tragicamente no incêndio que, em 20 de Março de 1888, deflagrou no Teatro Baquet, no Porto." Fonte: Câmara Municipal de Tabuaço
FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Direcção e dramaturgia: Susana C. Gaspar
Assistência geral: Ashleigh Moore Interpretação e criação: Susana C. Gaspar (actriz), João Ceitil (músico) Concepção de cenografia e figurinos: Ângela dos Santos Rocha Execução de cenografia: Ashleigh Moore, Ângela dos Santos Rocha e Toninho Neto Execução de figurinos: Ashleigh Moore e Adélia Canelas Consultoria para dramaturgia: Eugénia Vasques Montagem e operação som e luz: Nuno Gomes Apoio: Câmara Municipal de Tabuaço e Centro Cultural Olga Cadaval Produção executiva: Sandra Canelas Produção: Utopia Teatro Ensaios assistidos: Filipe Araújo, Paulo Campos dos Reis, Maria Gil, Carla Dias, Alexandra Diogo e Nuno Vicente. Agradecimentos: Américo Silva Nunes, Câmara dos Ofícios, Carlos Carvalho, Carlos Coxo, Eugénia Vasques, Inês P. Cerejo, José Pombo, José Gaspar, Paula Cipriano e Raquel Castro.
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PortfolioConheça os espectáculos realizados pela Utopia Teatro Data de estreia
November 2014
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